segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

“LIBERTAS QUAE SERA TAMEM”

A maior glória de um povo é a liberdade. Liberdade de sonhar, de caminhar, de lutar, de escolher seus próprios caminhos. De ousar, crescer e amadurecer seguindo o curso da natureza. É muito triste ser subjugado, humilhado, tratado como servo. Muitas vezes até tratado como quem existe apenas como estoque, prateleira, depósito, dispensa ou mesmo como um almoxarifado. É como me sinto agora. Subjugado, amarado em uma locomotiva que não quis embarcar. Arrastado pela corda da legalidade, em tons amarronzados da democracia que legitima, muitas vezes, a vontade dos mais fortes que dominam a direção da máquina. Dominado pela maioria que não me representa.
Imaginem Portugal dizendo não a emancipação do Brasil, as nações européias dizendo não à liberdade das colônias africanas no século XIX e XX, o Iraque dizendo não aos curdos, a Alemanha dizendo não aos judeus e depois os judeus dizendo não aos palestinos. Todas essas comparações têm semelhança. O poder de tirar a liberdade de um povo avançar.
Hoje me senti como uma colônia, hoje entendi um pouco mais como pensam os curdos, os palestinos, os povos governados por outros povos.
A campanha plebiscitária deixou uma certeza, os Belenenses trataram a nós, Carajaenses, como forasteiros, como outro povo, vindos de fora. Trataram-nos como usurpadores, como invasores. Se o Pará já era dividido, os Belenenses esclareceram essa divisão. Ofenderam-nos e distanciaram-se de nós. Querem-nos como servos, querem as riquezas de nossa terra, mas não nos querem como parceiros. Reclamam do calor, reclamam das estradas, da poeira e do barro. Os Belenenses nunca ousaram enfrentar o que nós, Carajaenses, enfrentamos.
Embora muitas vezes o não representa a necessidade de parar, no caso do plebiscito, o Não assemelha-se aos dos pais que não aceitam os filhos tomarem seu próprio rumo. Ao do cônjuge que não respeita a vontade do outro ir embora. Um não simplesmente. Não e Não. Simples e abrupto típico de quem não ouve, não pensa e nem tem interesse em discutir um assunto.
Nós ocupamos essas terras, descobrimos as riquezas, padecemos, lutamos, usamos o que outros não quiseram ou achavam que não valia pagar o preço. Nos Carajaenses, mesmo vindos de outras regiões do Brasil, amamos essa terra, não a difamamos como os Belenenses o fazem.
O Pará hoje é sim um gigante. Cansado, doente e analfabeto. Um gigante com pés de barro, que ainda espera para ser atendido nas grandes filas do SUS. Um gigante de feridas abertas pelo desleixo do seu próprio tamanho. Um gigante com a baixa estima de ser achincalhado de vez em quando em rede nacional. Umas vezes por matar seus filhos na Santa Casa, outras vezes por prender mulheres nas mesmas celas de homens, muitas vezes por freqüentar o topo das péssimas estatísticas de saneamento, de criminalidade de índices de IDH. Um gigante maltrapilho que não aceitou uma grande oportunidade de se curar.
O tempo mostrará as rachaduras do Pará Grande. Como grande foi o Império Romano que o próprio tamanho o destruiu. As rachaduras culturais invisíveis como as manifestações de um povo, as rachaduras geográficas, sociais. O Carajás não é a terra do carimbó, nem do tecnobrega, muito menos do tacacá, ou do Círio de Nazaré. Esses costumes talvez o centralismo político nunca vá impor à terra Carajaense.
Não temos identidade com o Ver-o-peso. Identificamo-nos mais com as cavalgadas, com os trajes de vaqueiro, com o sertanejo de viola, o forro nordestino, com uma boa galinha caipira e churrasco. As rachaduras da unidade vão contrapor o Araguaia e o Tocantins à Baia do Guamá. Vão contrapor a cultura do dendê à criação de gado. Vão contrapor a busca da liberdade à imposição da unidade. Vão contrapor o sentimento de metrópole colonizadora à força de um povo que deu seu primeiro grito de emancipação.
Que gritem o povo de Carajás: “liberdade ainda que tardia”, e sendo a democracia que dá o direito até de abortar sonhos, nos dá também o direito de dizer não, a todos que disseram não a nossa liberdade, e ao nosso direito de trilhar nosso próprio caminho.

Paulo Rogério de Almeida
Historiador/ Engenheiro Ambiental e Esp. em Educação Ambiental.

2 comentários:

  1. Olha ai galera a indignação de mais um Maldito Forasteiro que com os outros forasteiros somar-se-ão aos mais de um milhão que questionaram o sistema e que gritaram pela liberdade.
    Como os meus Irmãos Palestinos,
    Como tantos outros irmãos de tantas outras colonias que lutam pela sua liberdade.
    Somos outro povo, eramos irmãos assim arabes e judeus mas agora.
    JIHAD - instituiram por nós a guerra santa.

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  2. a indignação é grande com a derreto, mas com certeza com esse plebiscito isso fez com que muitos percebam as dificuldades da região e que muito precisa ser melhorado!!

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